quarta-feira, 30 de março de 2011

Macunaíma – capítulo V (Piaimã)

   Ao chegar à foz do rio Negro, Macunaíma tratou de deixar sua consciência na ilha de Marapatá (ou como o poeta já dizia, a própria “porta de Manaus”) na ponta de uma planta comum e não rara no nordeste brasileiro, de nome “mandacaru”, sendo que a árvore tinha uns dez metros, o que para Macunaíma seria ótimo como medida de precaução contra as saúvas. Voltou ao lugar onde seus irmãos o esperavam e então prosseguiram viagem.Após vários acasos ao passarem por terras nordestinas, o destino dos irmãos era São Paulo.
   Apesar das muitas conquistas, o herói acabou não juntando um vintém sequer, apenas tinha os tesouros herdados de icamiaba (nome utilizado como sinônimo para mulheres amazonas brasileiras), porém esses mesmos tesouros estavam escondidos nas grunhas do monte Roraima. A moeda tradicional era chamada de “bagos de cacau”, tendo Macunaíma levado consigo na viagem “nada menos que quarenta vezes quarenta milhões” dessas iguarias.
   Prosseguindo viagem, Macunaíma ia a pé e na frente de seus irmãos, aborrecido e procurando pela tal cidade de São Paulo. Na canoa inteiriça, feita de casca de árvore, vinham os irmãos agoniados com a grande quantidade de mosquitos que ali voavam, dando-lhes remadas que por vezes alcançavam a pele do rio, assustando os bichos que lá estavam.
   Ao lembrar-se de tomar banho, Macunaíma se viu em uma situação um tanto quanto complicada, pois no rio haviam muitas piranhas. O herói, no entanto, observou uma cova cheia d’água que poderia servir para lhe banhar. A água porém era “encantada” e o deixou com a pele branca, o que despertou o interesse dos irmãos, os levando a se banhar junto a ele. Como a água havia tirado toda a cor de Macunaíma e a sujeira se acumulado na poça, apenas um pouco restou para seu irmão Jiguê (que ficou com a pele cor de bronze) e um resto de nada para seu irmão Maanape, que só pôde lavar as palmas dos pés e mãos, continuando com sua pele escura. O herói junta seus irmãos e desce o Araguaia.
   Já em São Paulo, Macunaíma fica sabendo que Venceslau Pietro Pietra era o gigante Piaimã, o comedor de gente, companheiro de uma caapora (entre os índios, homem ou mulher do mato) de nome Ceiuci, que também tinha o hábito de se alimentar de carne humana e era muito gulosa.
   É interessante perceber algumas passagens tipicamente “saborosas” desse romance, como a chegada dos irmãos a São Paulo e o fato de Mário de Andrade tentar inverter os relatos quinhentistas da Literatura Informativa, como o índio que se encontra com uma suposta “civilização” e procura compreendê-la, entendendo a essência da sociedade, buscando nela traços de sua própria cultura. É de se notar também que é uma “rapsódia”, criticando o Romantismo e utilizando muito do folclore brasileiro, até então pouco conhecido e que a obra em si valoriza nossas raízes brasileiras e a própria linguagem dos brasileiros, onde Mário de Andrade tenta escrever um romance que agrega a prática de acomodar um grande número de culturas distintas, numa única sociedade, sem preconceito ou discriminação.

Por: Carlos Rebouças

Nenhum comentário:

Postar um comentário